Lux, a teoria da cesta e a antropofagia

9 novembro 2025

Faz tempo que não escrevo nada, até que esse álbum da Rosalia me obrigou a tirar um tempo (já bem contado pelo desastre, também conhecido como final de semestre da faculdade) para colocar no mundo o que achei do sentimento que essas músicas me trouxeram. No meio tempo vi uma entrevista onde ela cita um texto da Ursula K. Le Guin, uma escritora de ficção científica brilhante, que busca colocar luz sobre as relações e comportamentos humanos dentro de cenários e realidades futuristas. Curioso que sou, decidi ir atrás do texto, 7 páginas que me explodiram a cabeça. O texto a seguir é resultado dessa experiência.

A uns dias me deparei

com uma ideia interessante

A de ver um receptáculo enquanto símbolo cultural

Um pote, uma panela, uma casa.

Algo que acolhe e reúne, que trás para perto.

Um guardar para a posteridade.

A crença na continuidade.

Diante do símbolo da lança,

Que assassina,

Objetos que contornam necessariamente agem contra o instinto pontiagudo do derramamento de sangue.

Uma violência que se dá por um símbolo fálico, vulgarmente masculino e heroíco.

A lança diferente de um pote, corta, invade e penetra.

Ela é uma forma de dominância que visa apenas uma coisa:

Se fazer valer pela eliminação do outro.

Narrativamente,

o receptáculo atua contra o mito do heroi.

Culturalmente,

ele se dirige a um senso de comunidade.

Ao meu ver, não é atoa a referência feita a Ursula K. Le Guin por Rosalia.

Seu último trabalho envisiona a comunhão de vozes e linguas.

Em um movimento de antropofagia, de pegar para si aquilo que existia apenas à distância, na dimensão do outro.

São múltiplos idiomas que passam a conviver, em uma miríade de novos significados, símbolos e afetos.

Aqui a mistura se dá pelo entendimento de que ela é parte de um todo, não enquanto dominação, mas entrega.

Um acolher do estrangeiro, que leva a reunião das mãos numa prece.

Em busca de um maior entendimento de sua própria e particular experiência humana.

A partir dessa visão, o que temos é um convite mistico e espiritual, abra seus braços e ouvidos e escute.

Artigo da Ursula