Faz tempo que não apareço por aqui, a verdade é que tenho vivido bastante fora das telas. No último mês conheci uma garota que tem feito minha vida mais repleta de alegria, no texto de hoje quero comunicar parte do sentimento que me invade atualmente, junto a um desabafo sobre minha mãe, super protetora.
Esse desabafo vem de um lugar de ansiedade e tristeza, os sentimentos que têm se refletido na relação que tenho tido com ela. Eu amo a minha mãe, ela é carinhosa, engraçada e extremamente competente no trabalho. Sem dúvidas a pessoa que mais influenciou na minha criação. Se sou o ser humano que sou, em grande parte é graças a ela. Puxei o seu jeito fácil de conversar com as pessoas e um estoque de paciência hercúleo. Juntamente a um senso de responsabilidade e compreensão que são raros pelo que vejo no dia a dia.
Mas nem tudo são flores, sendo bastante católica, minha mãe de fato vive sobre as bases da religiosidade, e como todos os pais, ela tem expectativas sobre quem eu devo ser, tudo pelo meu bem, querendo que eu tenha um encontro com Deus e que o deixe guiar a minha vida, longe das garras do mundo, longe do pecado que ronda o que para mim nada mais é do que parte da nossa jornada de autoconhecimento.
Pra ela eu deveria estar dentro da igreja, servindo como ela, meu pai e meu irmão menor. Afinal eu sempre fui quieto, obediente e responsável, um exemplo de irmão mais velho que nunca deu trabalho, nunca falou alto ou defendeu ideias diferentes das dela. Nunca fiz nada disso por medo de ser reprovado, ganhando a consciência de que não, eu não sou perfeito, de que no final das contas eu falhei enquanto irmão mais velho e filho. De que sou na verdade uma decepção amarga.
Parece que isso finalmente aconteceu.

Em plenos 21 anos de vida, enfim chegou o momento de ruptura que eu tanto busquei evitar, um momento onde eu necessariamente fiquei contra minha mãe para defender algo que realmente importa pra mim, pois de outra forma eu iria estar agindo ao contrário de minha natureza. A situação que começou essa crise: O fato de eu ter voltado tarde para casa. Não só isso como também pela situação de que estou gostando de uma garota que é diferente de tudo que ela defende e imagina como o ideal. Temos saído todas as semanas, às vezes duas vezes na semana. Sempre até às 23h - 00h, aconteceu que dessa vez perdemos a hora, e por isso mesmo voltei para casa às 2h da manhã.
Aqui fico em dúvida, pois se de um lado é normal dos pais se preocuparem, de outro eu sou um jovem querendo viver a própria vida, em especial viver o amor, coisa rara pra mim, uma vez que sou demissexual. Como se não bastasse, também sou consciente demais da mortalidade nessa terra, e fico aflito pela ideia de olhar para trás com os olhos enrugados e perceber que minha vida passou, como um sopro gelado, e eu não fiz o que sentia que devia, que eu deixei o meu coração de lado apenas para satisfazer os desejos e anseios da pessoa que mais amo nessa vida, porque sim, minha mãe é muito especial pra mim, mas ela não vive minha vida por mim, isso é algo que só eu posso fazer. Por causa disso, não acho justo essa cobrança. Posso ter errado ao voltar tão tarde, mas não me arrependo. Sou uma pessoa individualista? Talvez. Talvez eu não me importe tanto com minha mãe quanto imaginei, talvez eu seja um péssimo filho por não levar em conta que ela não consegue dormir por preocupação até que eu chegue em casa, apesar do fato de estar morrendo de sono pois trabalhou pra caramba durante o dia todo.
E veja só, não bastasse todo esse desgaste, agora estou me relacionando com uma garota que não é da igreja, que tem piercings e tatuagens e o cabelo curtíssimo. Creio em Deus pai. Eu não devia achar ela tão atraente e legal, não devia gostar tanto de nossas conversas e risadas, de olhar no fundo dos olhos dela e sentir que ali tenho acolhimento, em cada abraço indo contra todos os santos que tanto se esforçaram para nos afastar dos pecados da carne com seus exemplos de santidade. Não bastasse isso, mal percebo as horas a fio que se passam no piscar dos olhos dela, tudo porque, nos nós entendemos como pessoas descontínuas e simples que, de uma hora para a outra, passaram a compartilhar suas solidões, esses espaços vagos, confusos e bonitos que em conjunto, se somam em expressão de vida graciosa. A verdade é que me sinto bem com ela, e eu não acho que Deus veria nada de errado nisso.
Pra mim Deus é amor e a religião nada mais é do que uma forma de ensinar a compaixão e a gentileza para as pessoas, pra mim o mais importante de tudo é tentar ser uma boa pessoa para os outros, não por algum chamado divino, mas simplesmente porque é a coisa certa a se fazer. Eu sou gentil pois entendo que todo mundo passa por situações extremamente complicadas, e que não custa nada estender a mão e escutar antes de apontar e fazer julgamentos. Encontrei Deus no agir do dia a dia. O motivo de não servir na comunidade está no fato de existirem princípios com os quais não concordo. Não acho certo ser contra o aborto, assim como odeio o fato de existir uma submissão da mulher diante do homem e do casamento, além dessa castração da liberdade de se escolher um relacionamento se baseando puramente em diferenças religiosas, sem contar o tabu sobre sexo e experiências carnais. Tudo isso me causa asco, e o fato do grupo jovem ser repleto de conservadores e pessoas extremistas de direita é mais um grande fator que me afasta desse caminho, não tenho paciência nem afinidade com essas ideias.
Eu sou religioso, o fato de acreditar que existe algo além me faz bem, por mais irracional que seja, apesar disso, quero seguir o MEU caminho, tendo total responsabilidade por minhas ações e orações. Não vou deixar de viver a vida como acho correto por regras que não representam aquilo que acredito e vivencio em pleno séc.XXI. Talvez eu me arrependa disso, não sei, só sei que atualmente me disponho a seguir meu coração sem medo de encarar de frente a felicidade que me invade, quero acolhê-la, me soltar do papel de ícone infalível e me permitir ser jovem, ser apaixonado, ser tolo e ser humano.