Será que é muito red flag chegar no primeiro dia de terapia dizendo que eu não queria estar ali?

17 de dezembro, 2025

Ps: adorei o título, mas ninguém merece um texto corrido em vermelho sangue, sendo assim se contente com este laranja, que é absolutamente mais agradável.


Me imagino chegando na sala, o silêncio tenso de um primeiro encontro que pode decidir os rumos de todo o processo, o piso amadeirado rodeado por estantes de livros, contendo as respostas para todos os questionamentos humanos, inclusive os não anunciados.


Sob a iluminação sóbria, o analista sério, jaz sentado numa cadeira de espaldar alto, diante de outra cadeira idêntica, porém vazia. Eu me aproximo desajeitado, mais consciente do que nunca de meus movimentos incertos e do peso amigável de meu corpo. Enfim me sento, ansioso como de costume, e cruzo as mãos enquanto digo - sabe é que na verdade, eu fui emocionalmente chantageado pela minha própria mãe, de forma que a minha presença neste escritório, senhor analista, nada mais é do que uma ‘condição’ para que eu possa continuar saindo com uma garota.

Imagino a expressão do senhor de idade, o leve franzir dos olhos, a barba cheia típica de um pai de família que tem tempo de escová-la no final da tarde de modo costumeiro, logo após ter passado um tempo agradável brincando com os filhos no gramado atrás de casa.

Eu realmente não faço ideia do que ele poderia me responder ali, fato é que será engraçado se ele for da escola lacaniana. Um estudioso da psique descrita enquanto linguagem. Como um conjunto de significados: a literalidade das palavras, e significantes: os valores atribuídos a estas mesmas palavras, porém dentro de um contexto e conjuntura específica, neurótica e particular de cada um.


Veja bem, eu sou um escritor, logo essa linha de análise me parece bastante promissora. Afinal eu precisei recorrer às palavras em algum momento da minha vida para ser capaz de continuar existindo de forma mais plena dentro de minhas possibilidades. Fiz isso após me alimentar de muitos textos, poesia e letras de músicas e tudo isso me contornou de um modo que nada mais conseguiu, eu adoro! E para além disso, de modo geral, eu sempre senti bastante sede, seja de água ou da necessidade da contínua construção de novos horizontes. Por isso mesmo eu amo as dúvidas e as perguntas que são seguidas de exploração e descoberta de ~coisas~. Sejam elas quais forem, sentimentos, ideias, outras músicas.

Graças a esse processo ultimamente eu tenho explorado ruínas antigas, que guardam misteriosos segredos e tesouros. Entre eles, partes de quem eu sou. Entre os últimos achados se encontram: uma safira de autoconfiança, uma pérola que emana a vontade de ousar mais e também um colar de egoísmo.


Confiança por estar me reafirmando diante da minha mãe, pessoa central na minha vida, seja como ideal ou enquanto controladora mor.
Ousadia por de fato tomar atitudes que anteriormente não tomaria, a exemplo: encontros escondidos (inclusive na minha casa) com essa garota que tanto comento e tomando a cabo apresentações em público para pessoas que nunca vi, falando em alto e bom som, fazendo piadinhas e mantendo uma boa postura (apesar de toda ansiedade).
E por fim, o Egoísmo, por estar me colocando tanto neste lugar de prioridade, e aqui também entra toda uma questão de distanciamento que mantenho de amizades. São todos tesouros, complexos em suas constituições, brilhantes em suas extremidades. Eu não os compreendo totalmente, mas consigo ver sua beleza, seu sentimento de culpa e liberdade.


Ainda sobre o distanciamento, isso é uma coisa que quero mudar. Mas é difícil, já que desde sempre eu sou uma pessoa que gosta de estar em casa, então assim, marcar encontros não é comigo. Eu até recebo convites para alguns rolês, mas ainda assim às vezes prefiro ficar em casa. Logo, criar energia para marcar algo certamente não está entre as minhas capacidades comuns… penso de onde isso vêm, se é só meu jeito mesmo ou se é algum transtorno mais sério. Apesar disso, a situação muda de figura em casos específicos: no meu aniversário e com interesses românticos.

Nesses dois casos eu abro exceções, marco coisas. Viro o agente que faz os encontros acontecerem, mas sei como isso é ruim. Acho que não deveria ser tão fechado e autocentrado.

Mas é um processo, gosto de acreditar que uma vez que se olha o espelho, se faz possível ajeitar o penteado. É uma péssima metáfora, e é por isso mesmo que a manterei no texto, lide com isso, mas é como eu penso a respeito.

Para além disso, sempre que penso em escolhas de vida, eu me julgo bastante, pois sou bastante consciente da realidade, do imaginário, do simbólico, ou ao menos tento me enganar disso.


Eu li bastante, consequência de estar pensando a cada instante.

Nisso, descobri minha ansiedade, bicho do mato

Que as vezes tento matar no ato

Verso, parágrafo e pronto. Não é sempre que funciona

Afinal nem tudo que se conecta de fato se relaciona.


Mas isso não me impede de seguir escrevendo, sempre criando espaço fertil para abraçar melhor os problemas, as situações, as escolhas boas e ruins que fiz, que faço e que irei fazer cedo ou tarde.

Teço laços procurando também pensar menos, não a nível de quantidade exatamente, mas a nível de paranoia. Sou bastante autossabotador nesse sentido, outra coisa que está na listinha de ‘coisas a regular para ser um ser humano mais funcional’ .

Acho que é isso que tinha para falar hoje, deixarei a religião de lado por enquanto, afinal estou de férias. Terei muito tempo para pirar com outros assuntos neste meio tempo. A, eu também comecei a assistir Frieren, fazia muito, muito tempo que eu não assistia anime. Estou gostando bastante! Talvez escreva sobre mais a frente também. No mais uma boa tarde, por aqui está frio, um gelado saudável, clima de natal sabe? Se leu até o final, depois me conte o que pensa do natal, eu adoro!! Fique bem :)